Se beber, não caia em outra cidade

Era nosso primeiro dia de verdade em San Francisco. Estávamos hospedados num hostel péssimo no centro da cidade e resolvemos visitar Mission, o bairro mais legal de São Francisco. Na noite anterior, tínhamos parado nosso carro num dos milhares de estacionamentos caros que tem lá, sempre comandados por árabes que fazem os flanelinhas de São Paulo parecerem senhoras atenciosas cuja principal missão é não deixar seu carro riscar. Depois de jogar uma espécie de Tetris invertido e finalmente conseguir tirar nosso carro, estávamos prontos para sair quando reparei que esquecemos o GPS no hotel.

– Ah! Preguiça de voltar para lá! A gente se vira com o GPS do celular, né?

Então fomos para Mission, eu dirigindo e a Debbie usando o Google Maps para me guiar. Conhecemos o bairro, achamos uma nova hospedagem muito legal para ficar, almoçamos, compramos umas coisas numas lojinhas, fomos pra um bar, um restaurante, jantamos e continuamos andando por Mission, descobrindo o que a noite de lá tinha pra gente. Nisso, demos de cara com o Elbo Room, um lugar bem legal com bar em baixo, com arcades e photobooth, e balada em cima. Ficamos horas por lá, bebendo, conversando com estranhos – uma hippie tirou foto do cabelo da Debbie e mandou pro cabeleireiro dela para copiar – , dançando, jogando, tirando fotos, bebendo mais um pouco.

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Ficamos lá até o bar/balada fechar: 2 da manhã, como praticamente todo lugar dos Estados Unidos. Quando saímos de lá, tropeçando de bêbados e cansados, me dei conta do nosso novo desafio: chegar no hostel. Seja viajando ou não viajando, quando sei que vou beber, normalmente não vou de carro, damos um jeito com táxi e transporte público para aproveitar melhor, mas nesse dia a bebida nos pegou de surpresa e nem passou pela nossa cabeça em deixar o carro lá e arranjar uma desculpa para passar mais um dia em Mission. Sentei no carro e lembrei de mais um problema: esquecemos o GPS no hostel.

– Ufa! Pelo menos eu tenho a Debbie como minha co-pilota! Ela vai me indicando o caminho pelo celular.

Saímos de lá, dei o celular na mão da Debbie pra ir me guiando, andamos nem duas quadras e eu lá super preocupado em estar dirigindo bêbado numa cidade que nunca dirigi antes, num país em ser pego dirigindo bêbado significa ser-preso-adeus-resto-da-viagem.

– Dé, agora é para esquerda ou direita?

– DÉ! Esquerda ou direita?

Olho pro lado – plof! – ela está dormindo. Pesado, nem sacudindo estava resolvendo. Entro em desespero, começo a entrar numas ruas quaisquer – tenho quase certeza que entrei na contra-mão numa faixa de ônibus, mas espero que seja só fruto da minha imaginação. Quando vejo, estou numa ponte. E essa ponte não termina. Nãooooooo terminaaaaaaa… Carros de polícia passando do lado. E a ponte não termina. Gasolina no vermelho. E a ponte não termina. Bateria do celular acaba (sério!). E a ponte não termina.

– DÉ! CARALHO! ACORDA!

Ela começa a aplaudir dormindo! A-P-L-A-U-D-I-R! Eu estou lá, quase chorando, pensando que já estava no Canadá e a ponte terminou. Eu paro no acostamento (finalmente!), espero o celular recarregar e olho o GPS:

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No fim, essa ponte que peguei era a Bay Bridge, que liga a cidade de San Francisco a Oakland. Dizem que ela tem 3 kms de extensão, mas juro que naquela noite ela estava com pelo menos uns 300. No desespero, acabei andando ainda mais pela estrada, procurando um retorno. Quando parei, estava em Berkeley, a cidade do lado. Ou seja, não só eu fui parar na cidade errada dirigindo bêbado, como essa cidade ficava  duas cidades seguintes!

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Mantive a calma, minha preocupação maior agora era a gasolina, que estava acabando. Tentei colocar a indicação do posto mais próximo, não consegui. Coloquei do hostel mesmo, me desejei boa sorte, decorei ao máximo o trajeto do mapa – é impressionante como a nossa sobriedade aparece nessas horas – e voltei o percurso todo.

Voltando vários kms de ponte e estradas, ainda em cima da ponte, vejo o iluminado de um posto de gasolina. Para vocês terem ideia do quão feliz eu fiquei, lembro até que era este aqui:

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Depois disso, não tenho ideia de como cheguei até o estacionamento, entreguei o carro para os árabes, andei de madrugada com a Debbie desmaiada de sono pelo monte de mendigos-zumbis até o hostel. Sei que acordei dormindo em uma cama, com a Debbie em outra cama, reclamando:

– Porque você não dormiu comigo? Você tá bravo?

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[item title=”Sobre o Elbo Room”]Elbo Room é um bar/balada que gostamos muito em Mission, bairro de San Francisco. É um espaço bem legal, que existe desde 1935 e já foi de restaurante espanhol a bar country. Embaixo tem o bar principal, com bancadas no estilo clássico dos bares americanos – sempre preferimos ficar nessas – e mesas para quem quiser sentar, além dos arcades com jogos clássicos como Space Invaders. Em cima, tem uma pista de dança grande, onde sempre tem shows ao vivo ou DJs. Dizem que aos fins de semana ele fica bem lotado, então é melhor ir em um dia mais tranquilo, já que abre todos os dias da semana nos mesmos horários.

Funcionamento: todos os dias da semana, 17h-2h.
Endereço: 647 Valencia Street – Mission, San Francisco, EUA

[button color=”bluelight” text=”white” url=”http://www.elbo.com/” window=”_blank”]Site[/button] [button color=”bluelight” text=”white” url=”http://www.yelp.com.br/biz/elbo-room-san-francisco” window=”_blank”]Yelp[/button] [button color=”bluelight” text=”white” url=”https://pt.foursquare.com/v/elbo-room/43b6c65cf964a520cf2c1fe3″ window=”_blank”]Foursquare[/button][/item]
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