Quatro coisas que sinto saudades de São Paulo

Essa semana nós ultrapassamos três meses fora do Brasil. Até hoje, o máximo de tempo que eu e o Fê ficamos longe de São Paulo tinha sido durante a roadtrip nos Estados Unidos, que durou exatamente 90 dias. Eu sei, ainda é bem pouco para quem mudou de país, mas já ando sentindo saudades de um monte de coisas de lá. Da família e dos amigos, é claro, mas de várias coisas que nunca parei muito para pensar e aproveitar de verdade, mas que descobri o quanto são mágicas só depois de não ter mais. Sabe quando você tá tão acostumado a viver em algum lugar que nem se dá conta do que tem ao seu redor? Eu tentei enxugar bastante, mas são tantas coisinhas que podem render vários posts. E, como a gente anda precisando de uma injeção de auto estima depois do nosso fiasco na semifinal da Copa, acho que temos um bom timing.

Tá aí uma pequena lista para vocês apreciarem nesse final de semana paulistano se estiverem por aí:

[dropcap letter=”1″] Petisquinhos no bar

Aqui em Berlim tem muitos, muitos bares. Vários bares legais, ambiente diferente, cervejas boas e baratas, é ótimo. Mas é super difícil encontrar um bar que venda alguma coisa para comer. Qualquer coisa. Amendoim ou batata frita aqui é sonho. Dá muita saudade de passar a tarde conversando com os amigos e pedindo aquelas porções maravilhosas de comida para todo mundo dividir. Já morremos de saudades de coxinhas, pastéis e bolinhos deliciosamente fritos de qualquer tipo. Aqui temos duas soluções para matar a fome em um bar, nenhuma muito atraente:

  • Eles deixam uns caras com umas cestinhas entrarem vendendo principalmente samosas, um salgado indiano que é frito e recheado normalmente de batata, conhecido como o-salgado-mais-sem-graça-da-humanidade.
  • Como quase sempre você paga o que consome na hora de pedir, não tem conta na mesa. Você pode sair, encontrar algum lugar para comer – normalmente um kebab – e voltar depois.

[dropcap letter=”2″] Sair tarde para jantar

Disso aqui a gente sente saudades sempre que sai de São Paulo. No dia em que chegamos em Berlim, por exemplo, passamos a tarde arrumando tudo e nem vimos a hora passar. Deu umas onze da noite, nós saímos para comer e….nada. Zero. Tudo já tava fechado. Só sobrou o kebab, que salva as madrugadas de fome aqui.
Se você entrar no restaurante às 11h30 em Berlim – correndo o risco de já ser barrado na porta – e eles fecharem meia noite, mesmo se você estiver no meio do prato eles vão até sua mesa, entregam a conta e avisam “ó, estamos fechando, ok?” e começam a colocar as cadeiras nas mesas, limpar o chão…então não tem essa de chegar tarde mas ficar até a hora que quiser. E olha que a grande maioria dos restaurantes fecha umas 22h mesmo. Quem comeu, comeu, quem não comeu vai pra o kebab. E isso acontece em praticamente todos os lugares que já fomos, de NY a Londres. São Paulo é amor para quem gosta de jantar tarde.

[dropcap letter=”3″] Preocupação com o outro

A vez que eu caí de bicicleta aqui foi na frente do canal, numa parte cheia de grupinhos de pessoas sentadas lá curtindo o sol. Rolei no chão, meia dúzia de pessoas olharam, um cara que vinha andando atrás quase pisou em mim desviando o pé de última hora e ninguém, absolutamente ninguém, perguntou se eu precisava de ajuda. Não preciso nem falar que é totalmente diferente do Brasil, né? Pra mim, essa foi a maior prova da forma que os alemães (e muitos europeus num geral) tentam não se meter na sua vida. Nem para o bem, nem para o mal. Na mesma proporção que quase ninguém mexe comigo na rua, o que é maravilhoso, ninguém também faz sequer a gentileza de segurar a porta quando você vem logo atrás, o que me parece meio mal educado. Apesar deles serem super curiosos e educados, raramente vão interferir na sua vida em qualquer momento, até para pedir licença na rua, que eles resolvem grudando nas suas costas e esperando você sair magicamente.

Para algumas coisas, isso é ótimo. Para outras, nem tanto. Na verdade eu queria um mundo intermediário, porque eu sei que isso é uma faca de dois gumes. Mas, sei lá, se meus cachorros se perderem no parque (nem brinca com isso! aff) eu torceria para que alguém pelo menos olhasse em volta para me ajudar a procurar, o que provavelmente não aconteceria.

[dropcap letter=”4″] A – falta de – cigarro

Não faz tanto tempo assim que a lei antifumo foi aplicada em São Paulo, mas aposto que todo mundo que tem idade para tal lembra o quanto nossa vida mudou. Chegando em Berlim, tivemos que nos reacostumar a chegar em casa com o cabelo fedendo, as roupas fedendo, a bolsa fedendo, a meia fedendo, tudo defumado pelos cigarros fumados no bar, na balada, no restaurante e às vezes até na plataforma do metrô. Eles fumam MUITO, em todos os lugares. Até existe uma lei antifumo aqui que proíbe as pessoas de fumarem em lugares públicos, mas ela tem tantas ressalvas que todo mundo consegue passar ileso, então deixam todo mundo fumar em qualquer lugar igual era São Paulo. Isso deve ficar ainda mais complicado no inverno, com um monte de pessoas enfurnadas nos lugares totalmente fechados.

 

Poderia estender essa lista infinitamente, mas essas quatro mudanças de hábito tão bruscas me fazem ter saudades de São Paulo, mais especificamente das nossas manias, pelo menos uma vez por semana. Não é só porque a gente tá amando morar aqui que não dá saudades de onde a gente viveu a vida toda, né? Sdds SP! <3

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