Praga e as portas que nos abrem os olhos

As descobertas mais legais que fazemos na vida são aquelas impossíveis de prever. As surpresas que acontecem no nosso caminho, que mudam toda a ordem do nosso dia e que nunca imaginaríamos antes. A beleza desses momentos está no imprevisível, mas é difícil alguma surpresa acontecer quando você já tem todo um caminho definido para seguir e acaba nem olhando para os lados.

Estávamos em um dos pontos mais turísticos de Praga, a Charles Bridge, e antes de começar a caminhada para atravessá-la, vi uma portinha pequena logo na primeira torre, a Old Town Bridge Tower, construída em 1373. Uma porta aberta, escura, que dava para uma escada em espiral, mas dentro da torre mais bonita e turística de Praga. Ninguém nem olhava pra ela quando passava por lá, imaginando não ser nada demais por não ter sequer uma luzinha ou marcação iluminando. Mas e se fosse alguma coisa?

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Como não tinha absolutamente nenhuma informação sobre ela na parte externa, nem uma setinha indicando a subida nem nada, entramos rapidinho sem ter a menor ideia se era proibido ou não. Fomos subindo aquela escada, rodando, sem saber o que esperar lá em cima. Teríamos que pagar alguma coisa? Será que precisávamos de algum ticket? Será que é só para quem trabalha no local? Será que, no fim, todas essas escadas vão levar a gente para algum lugar ou só vamos dar de cara com uma porta grossa de madeira trancada?

Uma coisa engraçada que acontece em entradas escondidas é que sempre tem algumas pessoas que repararam nela, mas acabam deixando pra lá por algum receio. Muita gente desiste com medo de estar fazendo alguma coisa errada – ainda mais em um país com a língua diferente. Logo que entramos, outras três pessoas nos viram e vieram atrás também, nos dando aquela sensação de que se não fosse nada, a “culpa” seria nossa. Pelo menos eles não se sentiriam os únicos tontos de subir todas aquelas escadas – e nem nós. Subimos, subimos, subimos e só as pequenas janelinhas, que iluminavam o caminho e apareciam de vez em quando, nos mostravam em qual altura estávamos.

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Do nada, chegamos em um guichê vazio. Chamamos o cara que trabalhava ali e compramos um ticket de 90 coroas tchecas (pouco mais de 3 euros) para sabe lá onde, já que até ali não tinha explicação nenhuma. Até tinha um vídeo em preto e branco passando em uma sala atrás dele, mas em tcheco. O preço era bom e queríamos fazer valer a subida, então pagamos meio sem saber o que esperar de lá. Subimos mais escadas e demos de cara com uma mulher emburrada sentada em um banco em frente a escada. Perguntamos sobre o lugar, ela tentou nos explicar em um inglês meio confuso e pegou nosso ticket.

A primeira sala contava a história da Charles Bridge e tinha algumas janelas com uma vista legalzinha. Nada muito incrível. Já meio decepcionados, tiramos meia dúzia de fotos e estávamos indo embora. É verdade que nós havíamos notado que as escadas em círculo continuavam subindo, mas se a mulher parava ali, achamos que era só até aquela sala meio sem graça. Já na porta, nos direcionando para descer, a mulher nos perguntou: vocês não vão lá em cima?

Sorrimos e subimos ansiosos mais vários lances de escadas em círculos, dessa vez sem ninguém nos acompanhando. Chegamos ao topo da torre, cheio de estruturas internas de madeira. Saímos por uma portinha em que o sinal dizia “Entre por sua conta e risco”. Meio bizarro para um ponto turístico, né?

Começamos a andar meio desengonçados nos equilibrando nos cantos, já que o espaço para colocar o pé ali era bem pequeno. Demoramos alguns segundos para entender que estávamos nos equilibrando no topo da torre, cheio de telhas antigas que faziam parte dessa construção de 600 anos. As estruturas deixavam bem claro o porquê da placa na entrada: se você quisesse, dava pra saltar lá de cima e não tinha ninguém te supervisionando.

Fomos com cuidado rodeando toda a torre e vendo a Charles Bridge, lotadíssima de turistas, de vários ângulos. Em algumas horas, tanta gente que você mal conseguia ver o chão. Estávamos no ponto mais turístico de Praga, vendo trocentos turistas se estapeando por uma foto legal, e só nós e o trio que nos seguiu curtindo aquela vista toda do topo da torre. Não fazia sentido que nenhuma daquelas pessoas cogitou entrar nessa portinha só porque ninguém disse “pode ir”!

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O que muita gente deixou de prestar atenção ali é que ninguém disse: “não pode ir”. Uma porta aberta e uma escada livre em um lugar super movimentados e quase ninguém se arriscou a tentar descobrir alguma coisa diferente por ali. Um ponto turístico importantíssimo que, se ninguém apontar com uma flecha vermelha gigante, ninguém presta atenção. Nesses lugares turísticos essa exploração de cantinhos deveria rolar ainda mais vezes, mas como ninguém anunciava a porta escura como algo sensacional (que realmente é), todo mundo acabou supondo que não era interessante.

Essa portinha para a torre da Charles Bridge nos deu a melhor vista da ponte, do castelo de Praga, da cidade antiga e do rio Moldava por só 3 euros, além de nos lembrar do quanto é importante ter o espírito curioso em tudo que fazemos na vida – até mesmo em um ponto turístico excessivamente explorado por turistas há anos.

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