6 hábitos que Berlim me ensinou

Uma das coisas mais legais de morar por algum tempo em lugares diferentes é incorporar costumes em seu cotidiano, tentando sempre pegar só as partes mais legais de uma cultura e adaptar para o seu dia a dia. Assim, vamos acumulando rotinas de diferentes lugares e nos moldando com seus melhores ensinamentos. Alguns nem fazem tanta diferença assim, mas acabam virando um hábito. Isso é bem legal para mostrar, mesmo que em detalhes, como aquele lugar te mudou de alguma forma.

Nesse tempo morando em Berlim nós adquirimos vários hábitos novos. Alguns nem tão interessantes ou legais assim, outros que queremos levar, pelo menos de alguma forma, junto conosco. Esse é só um resuminho de 6 hábitos que Berlim me ensinou:

Falar baixo

Eu sou de família italiana, então nasci acostumada com as pessoas falando super alto em casa desde pequenininha. Almoço em casa é sempre uma gritaria sem fim de todo mundo conversando. Além de tudo, eu tinha um problema que me deixava rouca o tempo todo, então se eu falasse baixo, minha voz simplesmente não saía. Só que quando resolvi isso, a mania de falar alto continuou. Até eu chegar aqui em Berlim.

Leia também: Como transferir dinheiro para a Alemanha pagando pouco!

As ruas aqui são muito, muito quietas. Você vê um grupo de adolescentes passando, rindo e conversando, mas eles fazem isso tudo de uma forma tão suave que quase ninguém além deles ouve. É surreal. Os cachorros, as crianças, todos são silenciosos. Quando chegamos aqui, a gente tinha até receio de falar enquanto andava na rua de noite, de tão silencioso que tudo ficava. E não é que as pessoas não conversam, é que elas falam baixo mesmo. Fomos acostumando nosso tom de voz aos poucos, um policiando o outro, mas hoje já virou bem normal. Pelo menos quando estamos sóbrios.

Tirar os sapatos ao entrar em casa

Esse é um costume que muitas famílias têm em diferentes lugares do mundo. Nós não fazíamos isso antes, mas assim que chegamos nesse apartamento, que tem uma sapateira logo na entrada, virou hábito. Hoje, quando esqueço alguma coisa dentro de casa e volto correndo para pegar, fico com um super peso na consciência de estar pisando com o sapato de rua no chão de casa.

Quando voltamos para casa do passeio com os cachorros, sempre limpamos cada uma das patinhas deles logo na entrada. Nada mais justo que tirarmos nossos sapatos também. E quando vamos na casa dos nossos amigos aqui em Berlim também sempre tiramos os sapatos logo na entrada, porque todo mundo faz isso. Ah! E daí poderia sair outro hábito: prestar sempre atenção nas meias que você vai usar.

Aproveitar o sol

O hábito de aproveitar o calor em países que tem muito frio na maior parte do ano é bem comum. Para nós, brasileiros, sol e tempo bom nunca foram coisas muito incríveis, porque temos quase todo dia. Só que quando chegamos em Berlim, em Abril desse ano, demos de cara com deliciosos 3ºC durante a noite. Não é nada assustador para quem mora aqui faz tempo, mas para brasileiros recém chegados, sem roupas apropriadas, foi um bom friozinho. E foram nesses 2 meses, vendo os alemães correrem para cada frestinha de sol que aparecia e curtindo cada segundo do calor até o verão chegar de verdade, que aprendi a valorizar o sol.

Só que mesmo no verão (que só pegou pra valer por nem 3 semanas aqui esse ano), chove muito e tem vários dias nublados. Então a caça ao sol só aumenta, especialmente agora que o verão já deu tchau. Hoje em dia, vocês podem me encontrar em frestas de sol na grama da praça em frente a nossa casa, com a Lisa e o Luca deitados de barriguinha para cima recebendo carinho. Além de tudo, tem o problema da falta de vitamina D no inverno, que falam que é bem crítico e quase todo mundo precisa tomar suplementos. Como não sei como meus cachorros vão reagir ao frio e as poucas horas de claridade, acho melhor já dar um boost de solzinho para eles.

Esperar o sinal verde para atravessar a rua

Não importa se está chovendo, no meio da madrugada e no frio, você vai ver alemães parados no semáforo de pedestres esperando ele ficar verde para atravessar mesmo sem carro nenhum passando. Você vê isso acontecer muito menos nos bairros turísticos, por causa de quem é de fora, mas os alemães sempre estão lá para dar o exemplo. E, justamente por isso, nós nos forçamos a esperar também. No começo eu me sentia meio tonta vendo algumas pessoas atravessando a rua no semáforo vermelho, de madrugada, sem carro nenhum, e eu lá parada. Mas agora acostumei. Só não me perguntem como será no inverno, porque com neve e-10 graus na rua é outra história, né? Haha

Parar de se preocupar com a chuva

Como vocês devem ter percebido pelos itens aqui em cima, Berlim não é uma cidade que você pode esperar por um clima maravilhoso. Mesmo no verão chove e venta muito, e tem chuva o tempo todo durante o ano. É estranhíssimo olhar para o céu e ver sempre as nuvens se movendo tão rápido, muito mais rápidas do que eu via em São Paulo. E, faça chuva ou faça mais chuva, lá estão os alemães andando de bicicleta, bebendo na rua, se deslocando de um lugar para o outro normalmente. Ninguém derrete.

Eu acho que esse trauma que eu tinha de chuva tem muito a ver com São Paulo, que trava inteira quando chove e ninguém consegue sair do trabalho, andar de carro, pegar ônibus ou metrô. Aqui, a vida continua normalmente. Capas de chuva eu nunca vi, mas algumas pessoas usam um tipo de trent coach impermeável ou guarda chuva. E vida que segue. Tivemos que nos acostumar a sair de casa com chuva para ir ao supermercado, feira, balada, restaurante…a qualquer lugar. Se você não se acostuma com a chuva, não sai de casa metade do tempo que vive em Berlim.

Andar mais

Esse é quase um complemento do anterior, mas vale muito a pena falar aqui. Em São Paulo, mesmo vivendo sem carro, eu andava super pouco a pé. Seja por preguiça, por ser muito tarde e eu ter medo, por estar atrasada ou com sono, eu nunca andava a pé. O metrô ficava há 15 minutos a pé da minha casa e eu sempre pegava o ônibus para ir até ele por, basicamente, preguiça. Às vezes até ia de taxi. Hoje em dia, quando vejo que um lugar fica há 30, 40 minutos a pé daqui, nem tem questionamento: vamos a pé. Ou de bicicleta, dependendo de onde é. É claro que o fato de Berlim ser plana ajuda muito, mas hoje eu vejo a preguiça que eu tinha de ir até o metrô e fico me perguntando porque eu não ia a pé até ele durante o dia, quando não estava atrasada, sem desculpa nenhuma?

Berlim tem uma coisa engraçada que é o completo oposto de São Paulo: a ideia de que usar carro é uma merda. É antiecológico, é cafona, é zoado. As pessoas vão comprar móveis (sim, móveis!) e não pegam um taxi, voltam de metrô. E fazem praticamente tudo a pé, de metrô, tram ou bike, seja levar 5kg de garrafas vazias ao supermercado que fica há 2 quarteirões ou comprar móveis. Se tem carros em Berlim? Um monte. Mais do que muita gente imagina. Inclusive tem vários carros que você pode alugar e pagar por minuto, sem precisar ter o seu próprio em casa. Mas ninguém usa o carro para andar por um caminho que faria em 15 minutos a pé. E esse é um aprendizado lindo, saudável e que quero muito que nos acompanhe daqui em diante, na medida do possível em cada cidade.

Se eu parar pra pensar, tem várias outras coisas que Berlim me mudou, como só comprar o que eu consigo carregar nas mãos, não ter nojinho de sentar na terra, grama, chão ou qualquer lugar público, dar muito mais valor as áreas verdes… são tantas coisas que nem me lembro mais, mas essas acho que são as mais marcantes! :)

14 Comments

  • Acho que o aprendizado deve ser incrível mesmo. Um novo, novos costumes.
    Eu, sinceramente, não sei se conseguiria falar mais baixo. Eu já sou muito exagerado. hahahah
    Adorei a ideia de tirar os sapatos antes de entrar em casa, é diferente.
    Odeio chuva, mas ela não impede de me fazer as coisas.
    Andar a pé para mim também não é problema. Já caminhei por mais de uma hora a pé sem ter dinheiro para pegar ônibus e foi super tranquilo. Hoje tenho desejo de comprar um carro. Odeio o transporte público da cidade onde eu moro, não é uma cidade grande, mas os problemas são enormes. Ficar mais de uma hora esperando ônibus não é fácil. Fora os congestionamentos.
    Tenho por mim que os alemães preferem andar de transporte público porque aí eles são de qualidade e funcionam praticamente 24 horas por dia, o que não acontece aqui no Brasil.

  • Amo esse blog <3
    Acho fantástica essa ideia de conhecer várias culturas e pegar as melhores coisas. Meu sonho era ter classe e falar baixo – também sou de família italiana, mas ainda por cima devo assumir que geralmente falo mais alto que todo mundo. Queria muito ser obrigada pelo contexto a abaixar de vez meu tom de voz. Acho LINDO quem fala baixo.
    Meu sonho era morar em uma cidade onde carro seria a última opção. Acho que o mundo seria muito melhor se as pessoas andassem mais a pé, de bicicleta, de trem. Só acho que não acostumaria nunca a esperar o sinal ficar verde mesmo se não vier carro nenhum. Sou apressadinha. hahaha
    Beijos!

    http://mvcee.blogspot.com

  • Oi, Felipe!
    Então, eu tive que aprender a falar baixo na marra, mas é bem mais fácil de acostumar quando todo o ambiente que você vive tem um tom mais baixo, né?

    Aqui o transporte público é incrível mesmo, mas muuito caro. Muita gente acaba só andando a pé ou de bicicleta para não ter que pagar. E a única coisa que funciona 24 horas todos os dias é o ônibus. Metrô, durante a semana, fecha lá pela meia noite. Só que aos finais de semana ele fica aberto direto (o que já resolve boa parte dos problemas!).

    Beijo!

  • Também acho lindo quem fala baixo! Eu nunca vou ser a-pessoa-mais-silenciosa de um lugar, mas resolvi um pouquinho aqui. Hahaha é que o contexto ajuda muito a mudarmos esse hábito, né? Aposto que quando for pra casa vou me pegar falando altão de novo sem nem perceber.

    Aliás, fui fuçar no seu blog, caí no post do Blog Day e achei vários links legais! Parei de responder seu comentário no meio pra dar uma olhada nos blogs e me perdi neles. Hahahaha

    Beijo!

  • Eu queria MUITO que tivesse espaço pra uma sapateira na porta de casa, quando passei um tempinho na casa de uns amigos aí eu achava o máximo a sapateira-banquinho. Eu já tenho o hábito de tirar os sapatos assim que chego em casa, mas pra isso tenho que ir lá pro quarto, e aí já era.
    E não se sinta culpada por andar menos em SP, as condições de temperatura (às vezes, literalmente) e pressão passam longe do ideal. Eu tinha uma ladeira a menos que você pra andar, às vezes o trânsito tava tão ruim que a pé era mais rápido, mas tava lá eu no ônibus. Na volta, então, nem se fala. =P

  • Na volta eu até entendo, já que rolavam alguns furtos ali de noite, mas de dia e sem pressa é muita vagabundagem! Hahaha

    Você já deu uma olhada nesses boards do Pinterest de shoe storages? Tem várias ideias diferentes que talvez improvisem um espacinho.

  • mania de falar alto também tenho, é foda

    essa dos calçados antes de entrar já vi na casa de alguns amigos e até mesmo na do boy. só que na dele é tipo tirar na escada antes de ir pro segundo andar onde fica a sala e os quartos. achei interessante.

    quanto a atravessar a rua, no centro de florianópolis é uma loucura. acho que seria muito mais fácil se as pessoas daqui seguissem o exemplos dos alemães daí

  • Já tem um tempo que conheci o blog de vocês e desde então comecei a voltar aqui sempre que rolava uma atualização, mas sempre fiz a leitora fantasma. Foi por isso que eu levei um susto quando recebi um comentário seu (Debbie) no meu blog porque né, quando nessa vida ia imaginar que cê ia chegar lá. Mas sério, ainda bem que você chegou. Não só pelos links maravilhosos que você me indicou e que sem dúvida me fizeram respirar e encontrar de novo a motivação que tava me faltando naquele momento, como foi bom saber um pouco da sua experiência, porque pra mim é tudo ainda tão abstrato que eu fico pensando "putz, deve ter alguma coisa errada comigo". Então obrigada, obrigada mesmo <3

    Agora, sobre o post. Aprender é uma coisa deliciosa, né? Morro de vontade de fazer um intercâmbio por "n" motivos, mas só de pensar em ter que me adaptar à um lugar novo, novos costumes e tal, já começo a sonhar acordada. Não deve ser fácil, mas gostoso, certamente deve ser. Sem contar que, de uma forma ou de outra, acho que quando a gente se vê em situações tão diferentes daquilo que estamos acostumados, acabamos conhecendo outros lados nossos, sabe assim?

    Eu realmente não sei se falo alto ou baixo (de verdade), mas achei genial adolescentes que falam baixo. Sério, tenho primos nessa fase (um inclusive mora comigo) e juro, apenas pensando seriamente em mandar eles passarem um tempo na Alemanha porque né, não sou obrigada.

    Agora juro, de uns tempos pra cá ando sonhando em morar num lugar onde eu possa andar mais. Moro em Brasília e, cara, é praticamente impossível não andar de carro nessa cidade. Transporte público não ajuda, claro, mas eu queria poder andar mesmo, sabe? A pé. Mas de bicicleta também serve, ia achar uma delícia. Tenho um amigo que voltou de um intercâmbio na França há pouco tempo e ele falta pirar aqui por ter que pegar o carro sempre que tem que ir, sei lá, ali na esquina. Triste, mas paciência, né. ~Realidades~.

    beijos, beijos!

    http://www.starshipsandqueens.com

  • Ah, Ana, que máximo que a gente fez transmissão de pensamento ao visitar uma o blog da outra! ahahaha e olha, por tudo que eu ando lendo sobre o mercado de comunicação ultimamente (pelo menos sobre o de SP), ele tá complicadinho mesmo, então todo mundo que tá começando deve estar meio perdido que nem você. Tomara que os links te ajudem!

    E nossa, sim! Pra mim, conhecer novos lados de nós mesmos é a melhor coisa de viajar. Você deixa de se enxergar como uma pessoa X ou Y para se enxergar como alguém mais aberto, que pode ser qualquer coisa, não só o que você achava que era o seu "normal". É muito mais aprender sobre você mesma do que sobre os outros lugares.

    Outro agravante de Brasilia é que o tempo é muuito seco, né? Aqui é até bom quando o tempo tá seco, porque pelo menos você não fica suada, mas tem vezes que parece que o ar nem entra no pulmão direito! Eu imagino que aí seja meio perigoso andar de bicicleta na rua porque os motoristas não respeitam, igual em SP, mas pelo menos vcs tem o ponto positivo de ser tudo plano! Quando a ideia das ciclovias chegar aí vai ser uma maravilha (e acho, espero, que deve chegar em breve).

    Beijo!

  • Me identifiquei a cada ítem. Berlin me mudou muito. Hoje moro em outra cidade da Alemanha, mais para o norte, a maioria das coisas sinto aqui tb, mas Berlin tem muito mais essa vontade de terminar com o carro que aqui. O pessoal me explicou que como a cidade (moro em Schwerin) ficou tantos anos "fechada", pelo regime da DDR, hoje as pessoas amam poder comprar um carro novo aqui. Mas mesmo assim, a grande maioria do pessoal do meu trabalho (eu também), faça sol ou chuva (ou muiiiiito frio) estamos pedalando.

  • aqui em santiago eu tbm aprendi a fazer tudo a pé
    moro no centro e isso, claro, ajuda mto… mas eu raramente pego táxi, mesmo se for pra voltar do role as 5 da manha, eu vou andando

  • Bacana demais, temos um sonho de morar fora quem sabe daqui uns 10 anos, por isso hoje planejamos inclusive na escolha do lugar, e sem duvida foram bastante uteis as informações. E o indice de assaltos, roubos, enfim, será que aí tem tanta roubalheira inclusive dos politicos como tem aqui no Brasil?Um abraço e boa sorte

  • Oi Maria! Todos os lugares tem seus problemas, não dá pra sonhar em mudar de país achando que os países europeus são perfeitos…bem longe disso! Berlim é um lugar muito seguro, bem tranquilo para andar na rua de noite e tal, e a maioria dos assaltos aqui são só furtos. Só que, por exemplo, também conheço gente que mora aqui e teve a casa invadida. É mais seguro que em São Paulo, mas tem vários outros problemas, inclusive com políticos e desvio de dinheiro.

    Tem que estar bem ciente disso antes de chegar aqui esperando por um país perfeito. É diferente, claro. Melhor em muitos aspectos e pior em outros, como qualquer país que você pretenda conhecer. Mas aí é descobrir qual é a realidade que se adapta melhor ao seu estilo de vida. :)

  • Que legal este post. Moro em Londres, mas posso dizer que a sua lista cabe direitinho na minha vida londrina (tirando a parte do semáforo pq em Londres é bem raro ver um Inglês… esta cidade é mto multicultural). A parte que se refere ao sol é a que mais me marcou… é incrivel como hoje valorizo muito mais isso!
    E hoje também aproveito muito mais o que a natureza tem a oferecer. Londres me ensinou tudo isso o que no Brasil passava tão despercebido.
    Parabéns pelo blog. Adoro acompanhar vocês e espero que vocês também estejam planejando morar em Londres por um tempo. Acho que esta cidade fantástica combina com vcs!

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